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Solar dos Pinheiro Lyra- S.J. da Laje/Al
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Desgosto
Dydha Lyra
Foste tu, um dia,
a luz do meu amanhecer!
Agora,
mornidade na ausência em desalinho,
qual pássaro sombrio.
Sem afeto, nem carinho,
roubaste de mim
meu sorriso,
minha alegria.
No brilho da luz do meu olhar,
puseste a noite, onde era dia.
E nem percebeste que eu,
pouco a pouco,
sem ti,
morria...
No vácuo instigante
do vazio de tuas mãos,
que a mim acarinhavam,
com desvelo, fervor e emoção,
abri uma janela,
só pra te ver passar...
E tu
(braços dados com a indiferença),
rindo à toa de quem tanto te amou,
até mesmo com a devoção de um louco,
que pressente em tudo um adeus,
e que assim, por tão pouco,
prova no mel
o gosto do fel.
Oh, asco desgosto!
Copyright 28/12/2010 by Dydha Lyra
All rights reserved.
Nesta sexta-feira, 10, o poeta, artista plástico e cantor Dydha Lyra apresenta o show “Tributo a Nelson Gonçalves”, no restaurante panorâmico da Casa da Indústria, na Avenida Fernandes Lima. O show acontece às 23h, mas a partir das 21h o local já contará com música instrumental.
O cantor disse à reportagem que essa é a segunda e última apresentação do show em tributo a um dos maiores cantores da música brasileira, morto em 1998. A mesa para quatro pessoas custa R$ 150 e as reservas podem ser feitas por meio do telefone: 9902-5230, com Victória.
Ritmo
Após assistir a primeira apresentação do show, a jornalista e escritora Arlene Miranda, que se declara fã ardorosa de Nelson Gonçalves, comentou: “Que empolgante apresentação! Interpretação perfeita, impecável, dolente, emocionante. Os versos das músicas que fazem parte do repertório do notável cantor gaúcho, em sua maioria de autoria de Adelino Moreira, ganharam especial ternura na voz do Dydha”.
“A malemolência do seu ritmo dolente, a beleza de suas letras e a maviosidade da voz do Dydha ao interpretá-las, fizeram-me voltar no tempo e mergulhar num estado de imorredoura saudade, quando se enaltecia e valorizava o luar, a poesia, o amor e a beleza da vida; quando as pessoas amavam mais e traiam menos, quando se podia andar na noite sem medo”, completa a escritora em seu texto.
No último sábado, o público alagoano viveu momentos de intensa emoção ao assistir ao show do cantor alagoano Dydha Lyra, este lajense de voz vibrante que, com extraordinária interpretação, prestou um tributo a Nelson Gonçalves, um dos maiores cantores brasileiros dos últimos tempos.
Para aqueles que tiveram o privilégio de assistir ao show de Dydha Lyra naquela noite memorável, foi como se voltassem a um passado de beleza, lirismo e encantamento, quando a voz de Nelson Gonçalves no auge de sua carreira embalava os corações dos enamorados: “Negue seu amor e seu carinho/ Diga que você já me esqueceu./ Vive machucando com jeitinho/ Este coração que ainda é seu./ Diga que meu pranto é covardia/ Mas não se esqueça/ Que você foi minha um dia…”
Basta ouvir, ainda hoje, uma canção na voz de Nelson Gonçalves, através dos inúmeros discos que ele deixou, para se emocionar e perceber que, numa canção, a interpretação é fundamental, tanto quanto a beleza da música. Ou seja, que o amor, a dor-de-cotovelo, a noite, o luar, as estrelas e até mesmo o cabaré, se misturam e se aproximam de um verdadeiro hino. E esse hino foi o que nós assistimos, sábado passado, na voz maravilhosa de Dydha Lyra; uma proximidade entre o deleite e a emoção, criando um elo especial entre o cantor e seu público, fazendo com que, naquele instante, um sentimento maior eclodisse no coração de quantos o aplaudiam.
Que empolgante apresentação! Interpretação perfeita, impecável, dolente, emocionante. Os versos das músicas que fazem parte do repertório do notável cantor gaúcho, em sua maioria de autoria de Adelino Moreira, ganharam especial ternura na voz do Dydha, deleitando o grande público presente à Churrascaria Gaúcha.
Vale dizer que, desde a adolescência, sou fã ardorosa de Nelson Gonçalves e, como tal, não pude me furtar ao desejo de cantar, junto às demais pessoas presentes, as músicas apresentadas por Dydha Lyra, cujas letras sei todas de cor, emocionando-me até as lágrimas. Essas músicas (sambas-canções, boleros, tangos) me remeteram a momentos vividos de extrema emoção. A malemolência do seu ritmo dolente, a beleza de suas letras e a maviosidade da voz do Dydha ao interpretá-las, fizeram-me voltar no tempo e mergulhar num estado de imorredoura saudade, quando se enaltecia e valorizava o luar, a poesia, o amor e a beleza da vida; quando as pessoas amavam mais e traiam menos, quando se podia andar na noite sem medo.
Em seu show, Dydha, com a primorosa escolha das músicas que fizeram a glória de Nelson Gonçalves, compôs um cenário todo especial, que encheu nossos corações do mais tocante êxtase, levando ao centro do salão os pares românticos, que dançaram até o término do show. Eram, provavelmente, casais que também viveram as emoções que embelezaram décadas passadas, onde predominavam a ternura e o lirismo.
Num dos intervalos, um espetáculo à parte: a apresentação dos dançarinos Carlyle Rosemond e Gabriela Macedo, que deram um verdadeiro show, flutuando no salão com admiráveis números de tangos.
Além de extraordinário cantor, Dydha é também um talentoso artista plástico e inspirado poeta, cuja beleza de seus poemas é conferida nas reuniões do Movimento da Palavra, grupo poético composto de importantes nomes da poesia alagoana, do qual ele faz parte.
Parabéns, Dydha, pelo belíssimo show, uma visão de tudo o que, em sua voz, se faz canção.
Sobre o autor
Arlene Miranda é jornalista e escritora (membro da Academia Maceioense de Letras)
Esse cheiro verde... de lembranças
embaçadas de manhãs lajenses,
desperta a memória sonolenta.
Pedras, enlodadas de Rio Canhoto,
formam um colar musguento de pérolas verdes,
na cabeceira do meu buliçoso rio,
que segue alegre, saltitante, cantando...
Uma brisa fria te acaricia
e norteia teu caminhar
em busca do oceano...
onde, com certeza,
morrerás anonimamente.
E eu, meu rio,
se não te encontro em meu leito,
(nessas horas em que me invades e me tomas),
morro encharcado,
no pântano movediço das lembranças,
que em mim se fez,
desde o alvorecer.
A solidão desta noite
embarca num trem de ferro
e viaja dentro de mim.
Parto... na bagagem,
um facho de luz em alvoroço
derrama gente,
bichos,
fogo corredor,
caboclinhas,
caiporas,
coisas que cantam,
dançam, brincam,
e flutuam...ziguezagueando,
na ferrovia.
O olhar arregalado agora é:
pião de goiabeira,
bola,
bala,
baladeira,
nado rios,
chupo canas,
e no manto da bananeira,
beijo escondido, acanhado ,
a boca primeira...
Ah,
essa noite morna,
banhada de Rio Canhoto,
escorrendo preguiçoso nos pés
das serras que cachimbam,
murmureja segredando a canção
que me traz vida!
Trem de ferro devagar...
É outono,
adormece a madrugada,
pois, careço das manhãs!
Calmo estás agora,
meu Rio Canhoto,
e de ti já não tenho medo.
Sabes, meu rio,
dia desses,
sob um céu plúmbeo e friorento,
saíste de tua habitual placidez.
E, assim como nós humanos,
quando tomados de cólera e desatinos,
cometeste inconsequentes temeridades,
arrastando, de um jeito torpe e incônscio,
tudo que obstruía
teu caminhar de rio...
E mostraste o quão forte és.
Deste-nos a certeza
de teu temperamento cíclico
e incognoscíveis momentos.
Ademais,
não te condeno, meu rio,
também sou assim...
Quando foste agredido em teu leito maior,
assoreado pela ganância descomedida do progresso,
devolveste com a mesma moeda,
e revelaste a face quase desconhecida,
ou esquecida,
de tua indignação,
ao longo de todos esses anos.
Tu,
assim como eu, meu rio,
quantas e tantas vezes nos reprimimos,
ao sermos envilecidos em nossos mais primitivos
desejos de liberdade...
Transformamo-nos, então,
e ficamos, destarte,
transfigurados,
a cometer
os mais incoerentes desvarios...
(São próprias da natureza humana
essas singularidades.)
Por tudo isso,
recebas, meu rio,
minha compaixão,
e me aconchegues outra vez no teu leito,
sobre tuas pedras mornas,
que exalam de tuas fendas musguentas
um hálito ainda matinal,
atenuado no entardecer
lânguido,
lajense.
Sou, pois,
teu irmão,
teu viço,
teu remoinho,
tua tiborna;
teu espírito cristalizado
reluzente sob o sol
e sobre as pedras,
de dualismo transparente
nos olhos d’agua da mãe serra;
ou, simplesmente,
redemoinho barrento,
turvo,
impenetrável,
na tua infatigável
ira de ser.
Atmosfera de éter,
um quarto em penumbra.
Imagens fantasmagóricas se esboçam,
na mente e na parede;
e ofegantes, irônicas,
por um instante, riem de mim...
E se fantasiam de glicemia, febre,
pressão arterial, arritmia...
invandindo-me os minutos, horas e dias,
como se não me bastasse viver,
ou sonhar com o amanhã...
Levanto-me e espio pelas frestas da janela:
à luz dos meus olhos
uma árvore velha, moribunda,
que como eu, também, insiste em viver.
Seus galhos, semissecos, semivivos,
me ensinam uma grande lição:
dobram-se, quando uma ave pesada pousa
e descansa, aleatoriamente, sobre si,
alçando voo, logo ao alvorecer ...
E o galhinho fraco,
(que não se deixou abater),
volta à sua postura natural.
Entendi, afinal,
que essa dor,
que ora me invade e maltrata,
também logo passará,
tal o passarinho que voou...
E a vida,
qual galho débil,
renovar-se-á,
trazendo-me, com a esperança,
a certeza de novos amanhãs!
Trago em mim fantasmas
que me cercam de dia,
e dias que me vestem de noites...
E noites que se desnudam,
lascivas e libidinosas,
bailando num silêncio
de pausa na ópera,
desde a sinfonia do amanhecer...
Calo palavras,
nada digo...
Apenas, vejo imprecisa
a paisagem que me olha,
surda e quase muda,
tateando minha solidão castrada,
para que ninguém mais possa senti-la!
Nos olhos, uma luz de ontem me amanhece. Despenca da última estrela um anjo gordo, atônito e bêbado... Como se pudesse, escorregando na chuva, segurar minha mão.
Eita que silêncio n'alma!
Minha solidão de tão só e arredia
sufoca meu grito,
amordaça sentimentos
e esbugalha um olhar para o ontem...
...como se pudesse decifrar no passado
a síncope mordaz e ofegante,
debruçada sobre o instante!
A solidão desta noite
embarca num trem de ferro
e viaja dentro de mim.
Parto... na bagagem,
um facho de luz em alvoroço
derrama gente,
bichos,
fogo corredor,
caboclinhas,
caiporas,
coisas que cantam,
dançam, brincam,
e flutuam...ziguezagueando,
na ferrovia.
O olhar arregalado agora é:
pião de goiabeira,
bola,
bala,
baladeira,
nado rios,
chupo canas,
e no manto da bananeira,
beijo escondido, acanhado ,
a boca primeira...
Ah,
essa noite morna,
banhada de Rio Canhoto,
escorrendo preguiçoso nos pés
das serras que cachimbam,
murmureja segredando a canção
que me traz vida!
Trem de ferro devagar...
É outono,
adormece a madrugada,
pois, careço das manhãs!
Groping the void ...
(You left in the black immensity of me)
so full of fumes volatile
which is adorned odor of languor and unrest,
I look at every moment,
which lost castaway on the island far from want,
a gesture, an encouragement to my winged heart
now soaked by the tears of indifference,
gagged by nasty goodbye
provided they remain silent, abruptly,
occasioning pause in the symphony
opera buffa
my frivolous existence.
The loneliness of this night
embarks on a railroad train
and travels inside.
Birth ... luggage,
a beam of light in an uproar
we pour,
animals,
fire hall
caboclinhas,
hoodoo,
things that sing
dance, play,
... and float zigzagging,
on the railroad.
The eye-popping now is:
pion guava,
ball,
bullet
party girl,
swimming rivers,
suck rods,
and mantle of banana,
hidden kiss, sheepish,
mouth first ...
Ah,
this warm evening,
Lefty bathed in Rio,
runny lazy feet
the hills that pipe,
murmur whispering the song
Which brings me life!
Railroad train slowly ...
It is autumn,
asleep at dawn,
because I lack the mornings!
This parsley ... memories
Lajense foggy mornings,
memory awakens sleepy.
Stones River Canhoto slimy,
form a necklace of pearls mossy green
at the head of my busiest river
What follows cheerful, bouncing, singing ...
A cool breeze caresses you
and guides your every step
in search of the ocean ...
where, certainly,
die anonymously.
And I, my river,
if not meet you in my bed,
(These hours that invade me and take me)
soaked hill,
quicksand in the swamp of memories,
to me if he did,
since the dawn.
AH! ESSE VELHO RELÓGIO
POR ONDE DOCEMENTE ESCORREGA O TEMPO,
TEMPO DE IDAS...
TEMPO DE VOLTAS...
E NÓS,
AFAGANDO NOSSAS MÃOS
TÃO FRATERNAS NO OUTONO!
NA MINHA BAGAGEM JÁ PUS NOSSAS VIDAS!!!
SE NÃO TE AVISEI,
PERDÔA...
É QUE DETESTO DESPEDIDAS...
Ah, esse velho relógio...!
Por onde docemente escorrega o tempo...
Tempo de idas...
Tempo de voltas...
E nós,
Afagando nossas mãos
Tão fraternas no outono!
Na minha bagagem já pus nossas vidas!
Se não te avisei,
Perdoa...
É que detesto despedidas...!!!
QUANTOS MATIZES
PRECISA MEU OLHAR
PRA COLORIR O BEIJO FOGOSO E MORNO
DE TUAS ONDAS
SOBRE PÁLIDAS AREIAS
QUE DEPOIS DE AFAGADAS
EM SEUS MONTES DE SARGAÇOS
IMAGINAM-SE MULHERES
DEFLORADAS POR LUZES
QUE VAZAM DAS SILHUETAS ESGUIAS
DE TEUS COQUEIRAIS.
Sem ti, serei folha solta
ao sabor do vento outonal,
colorindo o chão desfolhado d’alma.
E o mar...
não será verde, nem azul,
apenas cinza, cinza...
Gaivotas tristes sobrevoarão sob a luz débil
do ocaso em que me encontro.
O que farei dos meus dias,
(sempre tão iguais),
se me deixares?
Por favor,
não me deixes nunca, meu amor!
Que direi aos meus olhos,
quando buscarem pouso
no vazio da esperança de voltares?
Minhas mãos, tão esquálidas e nervosas
no adeus, na despedida,
mostrarão que és tu,
minha amada,
minha querida,
a força de meus versos,
a razão de minha vida!
E veio a tarde.
A noite escondeu a luz de teus olhos,
fico pensando em ti...
Te vejo agora no céu que construo,
pleno de estrelas piscantes e fugientes.
Eu sei...
és tu,
estrela cadente,
quem devolves o brilho
que a noite robou
quando, de súbito,
se fez em mim
ausência...
Saudade tem endereço,
se no peito ela se mete...
Em mim,
Rua do Cajueiro,
número cento e sete.
Ah, distantes dias,
à deriva na memória...
Vejo agora um anjo moreno,
olhos grandes e doces,
cabelos negros, voz singela;
veste linho branco, puro,
imaculado feito minh’alma infantil.
Eu...ali, quietinho,
caladinho, bem ao seu lado,
ouvia seu canto de glória,
assim, quase uma oração!
Aos pés da Virgem Maria,
mamãe falava e eu ouvia
em sua prece
a rogativa de bênção!