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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010



Desgosto
             
                                       Dydha Lyra

Foste tu, um dia,
a luz do meu amanhecer!
Agora,
mornidade na ausência em desalinho,
qual pássaro sombrio.
Sem afeto, nem carinho,
roubaste de mim
meu sorriso,
minha alegria.
No brilho da luz do meu olhar,
puseste a noite, onde era dia.
E nem percebeste que eu,
pouco a pouco,
sem ti,
 morria...
No vácuo instigante
do vazio de tuas mãos,
que a mim acarinhavam,
com desvelo, fervor e emoção,
abri uma janela,
só pra te ver passar...
E tu
(braços dados com a indiferença),
rindo à toa de quem tanto te amou,
até mesmo com a devoção de um louco,
que pressente em tudo um adeus,
e que assim,  por tão pouco,
prova no mel
o gosto do fel.
Oh, asco desgosto!


Copyright 28/12/2010 by Dydha Lyra
All rights reserved.





quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Notícias - Alagoas 24 Horas: Líder em Notícias On-line de Alagoas

Dydha Lyra apresenta 'Tributo a Nelson Gonçalves'


18h47, 09 de Dezembro de 2010 Da Redação
Divulgação
Nesta sexta-feira, 10, o poeta, artista plástico e cantor Dydha Lyra apresenta o show “Tributo a Nelson Gonçalves”, no restaurante panorâmico da Casa da Indústria, na Avenida Fernandes Lima. O show acontece às 23h, mas a partir das 21h o local já contará com música instrumental.
O cantor disse à reportagem que essa é a segunda e última apresentação do show em tributo a um dos maiores cantores da música brasileira, morto em 1998. A mesa para quatro pessoas custa R$ 150 e as reservas podem ser feitas por meio do telefone: 9902-5230, com Victória.

Ritmo

Após assistir a primeira apresentação do show, a jornalista e escritora Arlene Miranda, que se declara fã ardorosa de Nelson Gonçalves, comentou: “Que empolgante apresentação! Interpretação perfeita, impecável, dolente, emocionante. Os versos das músicas que fazem parte do repertório do notável cantor gaúcho, em sua maioria de autoria de Adelino Moreira, ganharam especial ternura na voz do Dydha”.
“A malemolência do seu ritmo dolente, a beleza de suas letras e a maviosidade da voz do Dydha ao interpretá-las, fizeram-me voltar no tempo e mergulhar num estado de imorredoura saudade, quando se enaltecia e valorizava o luar, a poesia, o amor e a beleza da vida; quando as pessoas amavam mais e traiam menos, quando se podia andar na noite sem medo”, completa a escritora em seu texto.
Notícias - Alagoas 24 Horas: Líder em Notícias On-line de Alagoas

segunda-feira, 23 de agosto de 2010


Uma noite memorável
 
Arlene Miranda


No último sábado, o público alagoano viveu momentos de intensa emoção ao assistir ao show do cantor alagoano Dydha Lyra, este lajense de voz vibrante que, com extraordinária interpretação, prestou um tributo a Nelson Gonçalves, um dos maiores cantores brasileiros dos últimos tempos.

Para aqueles que tiveram o privilégio de assistir ao show de Dydha Lyra naquela noite memorável, foi como se voltassem a um passado de beleza, lirismo e encantamento, quando a voz de Nelson Gonçalves no auge de sua carreira embalava os corações dos enamorados: “Negue seu amor e seu carinho/ Diga que você já me esqueceu./ Vive machucando com jeitinho/ Este coração que ainda é seu./ Diga que meu pranto é covardia/ Mas não se esqueça/ Que você foi minha um dia…”

Basta ouvir, ainda hoje, uma canção na voz de Nelson Gonçalves, através dos inúmeros discos que ele deixou, para se emocionar e perceber que, numa canção, a interpretação é fundamental, tanto quanto a beleza da música. Ou seja, que o amor, a dor-de-cotovelo, a noite, o luar, as estrelas e até mesmo o cabaré, se misturam e se aproximam de um verdadeiro hino. E esse hino foi o que nós assistimos, sábado passado, na voz maravilhosa de Dydha Lyra; uma proximidade entre o deleite e a emoção, criando um elo especial entre o cantor e seu público, fazendo com que, naquele instante, um sentimento maior eclodisse no coração de quantos o aplaudiam.

Que empolgante apresentação! Interpretação perfeita, impecável, dolente, emocionante. Os versos das músicas que fazem parte do repertório do notável cantor gaúcho, em sua maioria de autoria de Adelino Moreira, ganharam especial ternura na voz do Dydha, deleitando o grande público presente à Churrascaria Gaúcha.

Vale dizer que, desde a adolescência, sou fã ardorosa de Nelson Gonçalves e, como tal, não pude me furtar ao desejo de cantar, junto às demais pessoas presentes, as músicas apresentadas por Dydha Lyra, cujas letras sei todas de cor, emocionando-me até as lágrimas. Essas músicas (sambas-canções, boleros, tangos) me remeteram a momentos vividos de extrema emoção. A malemolência do seu ritmo dolente, a beleza de suas letras e a maviosidade da voz do Dydha ao interpretá-las, fizeram-me voltar no tempo e mergulhar num estado de imorredoura saudade, quando se enaltecia e valorizava o luar, a poesia, o amor e a beleza da vida; quando as pessoas amavam mais e traiam menos, quando se podia andar na noite sem medo.

Em seu show, Dydha, com a primorosa escolha das músicas que fizeram a glória de Nelson Gonçalves, compôs um cenário todo especial, que encheu nossos corações do mais tocante êxtase, levando ao centro do salão os pares românticos, que dançaram até o término do show. Eram, provavelmente, casais que também viveram as emoções que embelezaram décadas passadas, onde predominavam a ternura e o lirismo.

Num dos intervalos, um espetáculo à parte: a apresentação dos dançarinos Carlyle Rosemond e Gabriela Macedo, que deram um verdadeiro show, flutuando no salão com admiráveis números de tangos.

Além de extraordinário cantor, Dydha é também um talentoso artista plástico e inspirado poeta, cuja beleza de seus poemas é conferida nas reuniões do Movimento da Palavra, grupo poético composto de importantes nomes da poesia alagoana, do qual ele faz parte.

Parabéns, Dydha, pelo belíssimo show, uma visão de tudo o que, em sua voz, se faz canção.

Sobre o autor

Arlene Miranda é jornalista e escritora (membro da Academia Maceioense de Letras)

domingo, 22 de agosto de 2010

A POESIA DE DYDHA LYRA .






ANONÍMIA

Dydha Lyra
Photo Copyright © by Angélica Lyra 



Esse cheiro verde... de lembranças
embaçadas de manhãs lajenses,
desperta a memória sonolenta.

Pedras, enlodadas de Rio Canhoto,
formam um colar musguento de pérolas verdes,
na cabeceira do meu buliçoso rio,
que segue alegre, saltitante, cantando...

Uma brisa fria te acaricia
e norteia teu caminhar
em busca do oceano...
onde, com certeza,
morrerás anonimamente.

E eu, meu rio,
se não te encontro em meu leito,
(nessas horas em que me invades e me tomas),
morro encharcado,
no pântano movediço das lembranças,
que em mim se fez,
desde o alvorecer.


Copyright © 2010 by Dydha Lyra
All rights reserved. 






 




Insônia I


A solidão desta noite
embarca num trem de ferro
e viaja dentro de mim.

Parto... na bagagem,
um facho de luz em alvoroço
derrama gente,
bichos,
fogo corredor,
caboclinhas,
caiporas,
coisas que cantam,
dançam, brincam,
e flutuam...ziguezagueando,
na ferrovia.
O olhar arregalado agora é:
pião de goiabeira,
bola,
bala,
baladeira,
nado rios,
chupo canas,
e no manto da bananeira,
beijo escondido, acanhado ,
a boca primeira...

Ah,
essa noite morna,
banhada de Rio Canhoto,
escorrendo preguiçoso nos pés
das serras que cachimbam,
murmureja segredando a canção
que me traz vida!

Trem de ferro devagar...

É outono,
adormece a madrugada,
pois, careço das manhãs!


Copyright © 1999 by Dydha Lyra
All rights reserved.







LASSIDÃO

agora
minhas mãos
tremulas inquietas
te buscam  na madrugada
e trazem  outono n’alma

esse frio vazio
escorregadiço  por entre os dedos
mancha  nossos lençóis
adornados de lascívias
 
assim
me consome o querer
noite a dentro...

afago  tua ausência
( tão plena  do que não somos )
ou um dia
quiça
sonhamos

amantes
simplesmente
amantes...


Copyright © 2010 
by Dydha Lyra
All rights reserved.







Inquietude

Dydha Lyra


Tateando o vazio...
(que deixaste na negra imensidão de mim),
tão repleto de emanações voláteis,
cujo odor se adorna de languidez e inquietude,
busco a cada instante,
qual náufrago perdido na ilha distante do querer,
um gesto, um alento pro meu alado coração,
ora encharcado pelas lágrimas da indiferença,
amordaçado pelo sórdido adeus,
desde que calaste, abruptamente,
ensejando pausa na sinfonia
da ópera-bufa
do meu frívolo existir.


Copyright © 2010 by Dydha Lyra
All rights reserved.








RIO CANHOTO II



 
Calmo estás agora,
meu Rio Canhoto,
e de ti já não tenho medo.

Sabes, meu rio,
dia desses,
sob um céu plúmbeo e friorento,
saíste de tua habitual placidez.

E, assim como nós humanos,
quando tomados de cólera e desatinos,
cometeste inconsequentes temeridades,
arrastando, de um jeito torpe e incônscio,
tudo que obstruía
teu caminhar de rio...

E mostraste o quão forte és.
Deste-nos a certeza
de teu temperamento cíclico
e incognoscíveis momentos.

Ademais,
não te condeno, meu rio,
também sou assim...
Quando foste agredido em teu leito maior,
assoreado pela ganância descomedida do progresso,
devolveste com a mesma moeda,
e revelaste a face quase desconhecida,
ou esquecida,
de tua indignação,
ao longo de todos esses anos.

Tu,
assim como eu, meu rio,
quantas e tantas vezes nos reprimimos,
ao sermos envilecidos em nossos mais primitivos
desejos de liberdade...

Transformamo-nos, então,
e ficamos, destarte,
transfigurados,
a cometer
os mais incoerentes desvarios...

(São próprias da natureza humana
essas singularidades.)

Por tudo isso,
recebas, meu rio,
minha compaixão,
e me aconchegues outra vez no teu leito,
sobre tuas pedras mornas,
que exalam de tuas fendas musguentas
um hálito ainda matinal,
atenuado no entardecer
lânguido,
lajense.

Sou, pois,
teu irmão,
teu viço,
teu remoinho,
tua tiborna;
teu espírito cristalizado
reluzente sob o sol
e sobre as pedras,
de dualismo transparente
nos olhos d’agua da mãe serra;

ou, simplesmente,
redemoinho barrento,
turvo,
impenetrável,
na tua infatigável
ira de ser.



 
Copyright © 2010 by Dydha Lyra
All rights reserved.





A lição.

Atmosfera de éter,
um quarto em penumbra.
Imagens fantasmagóricas se esboçam,
na mente e na parede;
e ofegantes, irônicas,
por um instante, riem de mim...

E se fantasiam de glicemia, febre,
pressão arterial, arritmia...
invandindo-me os minutos, horas e dias,
como se não me bastasse viver,
ou sonhar com o amanhã...

Levanto-me e espio pelas frestas da janela:
à luz dos meus olhos
uma árvore velha, moribunda,
que como eu, também, insiste em viver.

Seus galhos, semissecos, semivivos,
me ensinam uma grande lição:
dobram-se, quando uma ave pesada pousa
e descansa, aleatoriamente, sobre si,
alçando voo, logo ao alvorecer ...

E o galhinho fraco,
(que não se deixou abater),
volta à sua postura natural.

Entendi, afinal,
que essa dor,
que ora me invade e maltrata,
também logo passará,
tal o passarinho que voou...

E a vida,
qual galho débil,
renovar-se-á,
trazendo-me, com a esperança,
a certeza de novos amanhãs!


Copyright © 2010 by Dydha Lyra
All rights reserved.










Compasso 48


Coração, o que é isso?
Que diabo! Responde.
Alegria ou desgosto?
Quase paras as batidas,
no compasso 48!

Sempre te enchi de alegria.
No esporte, foste forte,
quase campeão!
Pleno de música e poesia,
em Gonzaga, Sidney, Christiano, Jobim.
Mozart, Paurílio e Beethoven,
e tu, nada?
Coração, o que é que houve?

Na paleta escolheste as cores,
moldaste o barro com precisão.
Desenhaste o essencial aos olhos,
o que mais querias?
Emoção?

Ah, não coração!
Quando jovem, forte, destemido,
te dei a maior emoção:
deixei pra ti a escolha de tua dona, coração.

A noite te ouviu emocionada,
cantarolando tuas dores, teus amores, ilusões...
Mas hoje, por favor, ouve bem este conselho:
se pegares um violão, não cantes em dor maior,
esse tom te faz mal, coração.
Canta mais alegre, feliz,
no ritmo que a vida ensina e,
não sejas mais tão afoito,
nem me abandones agora,
logo agora...coração,
no compasso 48!



Copyright © 2000 by Dydha Lyra
All rights reserved.





    Companheirismo

Noite fria, 

insone,


solidão quer me deixar.


Imploro:


fique,


pra que minha saudade


sinta-se acompanhada!






Copyright © 2007 by Dydha Lyra
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Solidão em Pajuçara


Trago em mim fantasmas 

que me cercam de dia,


e dias que me vestem de noites...


E noites que se desnudam,


lascivas e libidinosas,


bailando num silêncio


de pausa na ópera,


desde a sinfonia do amanhecer...

Pajuçara sem sol


e um mar cinza, cinza, cinza...

Meus olhos ardidos, 


vento nordeste 


embaçou meu sentir ...

Calo palavras,


nada digo...


Apenas, vejo imprecisa


a paisagem que me olha,


surda e quase muda,


tateando minha solidão castrada,


para que ninguém mais possa senti-la!






Copyright © 2007 by Dydha Lyra

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Mar e mulher


Sozinha,


a mulher olhava o mar.


Seus olhos eram cinzas e molhados.


Não fazia bom tempo...


E sem alarde,


uma gaivota desenha no céu


a palavra saudade!






Copyright © 2006 by Dydha Lyra


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Sobrevivente


Esse triste azul de mar


que flutua em teus olhos


me arrasta pro fundo de mim...

E navego sem calmarias,


em ânsias e desejos,


numa solidão oceânica...


sem rotas margens,


sol, sal, ou gaivotas...

Náufragos,


agonizam meus versos,


encharcados desse azul! 






Copyright © 2006 by Dydha Lyra


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Madrugada



Cadê forças e coragem


pra remover o chumbo das horas


que se arrastam, fria e lentamente



sobre mim.




A madrugada na vidraça envelhece...


E tece um céu sem lua, nem estrelas,


  na imensidão do vazio que deixaste!





Copyright © 2006 by Dydha Lyra

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Anjo da guarda



Cinza, fria e lentamente,

 
se fez a manhã!



Nos olhos, uma luz de ontem
 
me amanhece.

 
Despenca da última estrela

 
um anjo gordo, atônito e bêbado...

 
Como se pudesse, 

 
escorregando na chuva,

 
segurar minha mão.






Copyright © 2006 by Dydha Lyra

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O silêncio


Eita que silêncio n'alma!


Minha solidão de tão só e arredia


sufoca meu grito,


amordaça sentimentos


e esbugalha um olhar para o ontem...


...como se pudesse decifrar no passado


a síncope mordaz e ofegante,


debruçada sobre o instante!






Copyright © 2008 by Dydha Lyra
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Aquele olhar


Fugaz olhar!

Por tão pouco... desassossega minha alma,



efêmero instante a desvanecer desejos!





Copyright ©  29/05/2008 by Dydha Lyra
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Invasão


 Invadiram-me sem cerimônia

aqueles olhos verdes,


tristes e irrequietos... 


que juro


nunca ter sentido num olhar


tanta doçura,


desejo 


e afeto!







Copyright © 2009 by Dydha Lyra 
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Foi ontem

 Quase noite,

solidão...


E esse hálito de ânsia


nas horas embriagadas,


sem risos


nem alegrias...

Passageiros embarcam


na memória úmida de ontem...

Ferrovias...


E um trem de ferro


desembestado,


fumaçando,


tem destino certo:


meu coração...

O vagão três, lotado...


de meu olhar 


com vinte e poucos anos ,


a ver da janela


a paisagem verde,


nas verdes horas,


dos verdes dias!








Copyright © 2007 by Dydha Lyra


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Busca




Redemoinho...

Águas barrentas salpicam a memória,

removem entulhos do porão de



lembranças... 

Um hálito de saudade embaça a vidraça 


e se agiganta, 

no eco ensurdecedor


do ontem... findo.



Copyright © 2007 by Dydha Lyra

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Malquerença


Meu olhar vazio


amordaça e congela lembranças


pra que não me denuncie...


Se ouso lacrimejar,


quebra-se


por malquerença.







Copyright © 2006 by Dydha Lyra

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Primavera


Houve um tempo


em que borboletas


bebiam cores.



Ah,trôpegas bailarinas


sobre girassóis,


cravos, margaridas,


rosas, imbés,


antúrios, sempre-vivas!

Rodopiavam e cantavam


a música preferida


dos amantes, quando beijadas,


assim, quase adormecidas...



Só hoje entendi,


era primavera,


e de tão feliz,


apenas sorria.







Copyright © 2006 by Dydha Lyra

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Insônia I


A solidão desta noite


embarca num trem de ferro


e viaja dentro de mim.



Parto... na bagagem,


um facho de luz em alvoroço

derrama gente,


bichos,


fogo corredor,


caboclinhas,


caiporas,


coisas que cantam,


dançam, brincam,


e flutuam...ziguezagueando,


na ferrovia.



O olhar arregalado agora é:


pião de goiabeira,

bola,


bala,


baladeira,


nado rios,


chupo canas,


e no manto da bananeira,


beijo escondido, acanhado ,


a boca primeira...

Ah,


essa noite morna,


banhada de Rio Canhoto,


escorrendo preguiçoso nos pés 


das serras que cachimbam,



murmureja segredando a canção 

que me traz vida!

Trem de ferro devagar...

É outono,


adormece a madrugada, 


pois, careço das manhãs!






Copyright © 1999 by Dydha Lyra

All rights reserved.










Lençois azuis.





Teu corpo adormece

na morosa languidez da carne...

E te vejo assim

no desalinho de lençóis azuis

que acarinham e encobrem

teu ventre de pucela desnuda!

Ah, como te gosto,

como te quero!

Roubarei, com delicadeza e prazer

para que não despertes,

essa luz que se inclina sobre ti,

sem precisar sequer

fragmentar o moribundo

entardecer que já se debruça,

depois de assoalhado

na janela da paixão...


Imaculado de ânsias incontidas,

o silêncio se quebra

no fremir dos lábios que se encontram...

Línguas mornas, ofegantes,

inquietas e antropofágicas

bailam com frenesi no céu de tua boca,

no gran finale
 
da sinfonia

carnal do desejo!






Copyright © 1999 by Dydha Lyra

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Eu e meu espelho.





Guarda-me em ti, meu espelho.

E não me mostres mais a ninguém,

ninguém... 
 
Deixa a longitude dos dias 

separar meus sonhos,

desejos , agonias... 

para que só em ti, 

afague o tempo minh’alma sulcada, 

nas fendas adormecidas da razão.
E meu coração, 

ah, meu coração, 

persevere jovem, magnânimo, altivo!
E quando assim me olhares,

eu...cabisbaixo, 

taciturno e comovido,

saberei que me guardaste,

deste-me, por fim, 

um abrigo!





Copyright©2009 by Dydha Lyra
All rights reserved.







VÁ...


...  e se já não me  queres
que  importa a  saudade
se pra  existir  um dia estivestes em mim
( nos mais íntimos espaços do meu corpo e de min’alma


)
preenchendo-me 
com a delicadeza da luz de um  entardecer
que ora se esvai
trazendo
a  lugente  ausencia de tudo.






Copyright©2009 by Dydha Lyra
All rights reserved.








Restlessness

Dydha Lyra


Groping the void ...


(You left in the black immensity of me)


so full of fumes volatile


which is adorned odor of languor and unrest,


I look at every moment,


which lost castaway on the island far from want,


a gesture, an encouragement to my winged heart


now soaked by the tears of indifference,


gagged by nasty goodbye


provided they remain silent, abruptly,


occasioning pause in the symphony


opera buffa


my frivolous existence.







Copyright © 1999 by Lyra Dydha
All rights reserved.











INSOMNIA


The loneliness of this night


embarks on a railroad train


and travels inside.



Birth ... luggage,


a beam of light in an uproar


we pour,


animals,


fire hall


caboclinhas,


hoodoo,


things that sing


dance, play,


... and float zigzagging,


on the railroad.


The eye-popping now is:


pion guava,


ball,


bullet


party girl,


swimming rivers,


suck rods,


and mantle of banana,


hidden kiss, sheepish,


mouth first ...



Ah,


this warm evening,


Lefty bathed in Rio,


runny lazy feet


the hills that pipe,


murmur whispering the song


Which brings me life!

Railroad train slowly ...

It is autumn,


asleep at dawn,


because I lack the mornings!




Copyright © 1999 by Lyra Dydha
All rights reserved.










ANONIMA
 
This parsley ... memories

Lajense foggy mornings,


memory awakens sleepy.

Stones River Canhoto slimy,


form a necklace of pearls mossy green


at the head of my busiest river


What follows cheerful, bouncing, singing ...



A cool breeze caresses you


and guides your every step


in search of the ocean ...


where, certainly,


die anonymously.



And I, my river,


if not meet you in my bed,


(These hours that invade me and take me)


soaked hill,


quicksand in the swamp of memories,


to me if he did,


since the dawn.





Copyright © 2010 by Lyra Dydha
All rights reserved.






VÁ...




Dydha Lyra

...  e se já não me  queres
que  importa a  saudade
se pra  existir  um dia estivestes em mim
( nos mais íntimos espaços do meu corpo e de


min’alma )
preenchendo-me
com a delicadeza da luz de um  entardecer
que ora se esvai
trazendo
a  lugente  ausencia de tudo.






Eu e Minha Emoção

Quando canto,
Viajo nas palavras...
E levo uma bagagem
Chamada emoção...!!!

Minha emoção...!!!
Ela sempre me diz :
Mais do que penso,
Do que quero
E sinto de mim mesmo...

Dia desses, disse-me assim:
Quero ver, e ouvir,
E sentir teu coração,
Quando cantas...

E ela viu, e ouviu,
E sentiu, e entendeu,
Porque ele estava mais rubro que de costume:
Cantava um amor,  desilusão...

Quando a sentiu,
Meu coração amarelou,
Disfarçou,
Atrasou o ritmo,
E conteve-se, então...

Ele não queria que ela soubesse
De sua vida particular,
Mesmo morando em mim...

Bobagem, pura bobagem, coração!
Sabes, vez por outra, aceleravas,
Batias forte e ofegante,
Quando ela passeava,
Na minha doce ilusão do querer...

Certa feita,  a saudade_forte emoção_
Chamou-te a atenção:
Olha,
Movimenta-te...
Tu andas cabisbaixo, taciturno, coração...
Que cara é essa?


Fizeste pouco caso e,
Caíste nas mãos de um cirurgião...
Que te deu uns tapinhas
Para que te tocasses
E voltasses para o teu dono, coração...

Foi aí que eu percebi
O quanto me querias bem...
Pois  voltaste  forte, alegre, cheio de vida....
E juraste para mim, teu emotivo dono,
Cuidar melhor da  minha emoção e,
Não sofrer por mais ninguém...!!!





By Dydha Lyra
Copyright © 2007
All rights reserved.












PAIXÃO


Não te toco,
Nem te sinto,
Paixão...
Mas, dentro de mim,
Vibram teclas frias
E débil se faz meu olhar,
Se te desnudo virtualmente...

Se mentes, acredito,
Porque sempre assim fiz...
Acreditei nas palavras,
Viajei nas sensações
Da força com que elas produzem,
Com ou sem pudor,
Sonhos fecundos...

Que desnudam teu corpo tíbio,
Cibernético,
Despudorado,
Aético,
Numa simbiose que embriaga
O desejo de amar...!!!




By Dydha Lyra
Copyright © 2007
All rights reserved.




OUTONO


AH! ESSE VELHO RELÓGIO
POR ONDE DOCEMENTE ESCORREGA O TEMPO,
TEMPO DE IDAS...
TEMPO DE VOLTAS...
E NÓS,
AFAGANDO NOSSAS MÃOS
TÃO FRATERNAS NO OUTONO!
NA MINHA BAGAGEM JÁ PUS NOSSAS VIDAS!!!
SE NÃO TE AVISEI,
PERDÔA...
É QUE DETESTO DESPEDIDAS...

By Dydha Lyra
Copyright © 2007
All rights reserved.








Amor de Ontem 
 

Olhos e silêncio
Mergulham na taça de vinho...
E fez-se pálida a lua
Que também já não é mais nossa...

Uma súbita lágrima cai
E lava o passado
E deixa esse gosto de sal na boca...
Que me 
faz forte pro renascer!
 



By Dydha Lyra
Copyright © 2006
All rights reserved.




OUTONO
 

Ah, esse velho relógio...!
Por onde docemente escorrega o tempo...
Tempo de idas...
Tempo de voltas...
E nós,
Afagando nossas mãos
Tão fraternas no outono!
Na minha bagagem já pus nossas vidas!
Se não te avisei,
Perdoa...
É que detesto despedidas...!!!




By Dydha Lyra
Copyright © 1997
All rights reserved.












PAJUÇARA

 

QUANTOS MATIZES
PRECISA MEU OLHAR
PRA COLORIR O BEIJO FOGOSO E MORNO
DE TUAS ONDAS
SOBRE PÁLIDAS AREIAS
QUE DEPOIS DE AFAGADAS
EM SEUS MONTES DE SARGAÇOS
IMAGINAM-SE MULHERES
DEFLORADAS POR LUZES
QUE VAZAM DAS SILHUETAS ESGUIAS
DE TEUS COQUEIRAIS.




By Dydha Lyra
Copyright © 1997
All rights reserved.









Se me deixares

Não me deixes nunca, meu amor!
Sem ti, serei folha solta
ao sabor do vento outonal,
colorindo o chão desfolhado d’alma.
E o mar...
não será verde, nem azul,
apenas cinza, cinza...
Gaivotas tristes sobrevoarão sob a luz débil
do ocaso em que me encontro.
O que farei dos meus dias,
(sempre tão iguais),
se me deixares?
Por favor,
não me deixes nunca, meu amor!
Que direi aos meus olhos,
quando buscarem pouso
no vazio da esperança de voltares?
Minhas mãos, tão esquálidas e nervosas
no adeus, na despedida,
mostrarão que és tu,
minha amada,
minha querida,
a força de meus versos,
a razão de minha vida!



Copyright © 24/02/2010  by Dydha Lyra
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HESITAÇÃO 


Segura minhas mãos,
aquece-me,
preciso de ti.

Sinto frio...
Frio nos pés, nas mãos, na cabeça, n’alma.
Já não bastam tuas mãos em mim,
acolhe-me o espírito fatigado,
dá-me um lenitivo
para meu coração descompassado
e já intruso em mim,
nas vezes que não lhe solicito condolências.

Careço de silêncio,
de coisas fugidias,
movediças no pensamento abstrato,
simbologia matemática infinita...
Ora vacante,
debandado, fustigado,
perdido em mim...
Meus olhos lacrimejam sentimentos,
pela razão hesitante de tudo que fiz,
faço, construo, digo ou calo.

Vejo a televisão:
- um homem, gordo, careca,
apregoa Deus e dízimos;
a libertação do espírito
escorre por sua boca,
em direção aos bolsos dos incautos;
festival podre, perverso, desumano,
ilações nefastas e doentias.


Aqui, diante do computador,
vomito, pelos dedos, indignação.
Angustiam-me as horas, os dias,
os anos que hão de vir,
quando só me bastariam
a certeza de cada amanhecer,
a paz de um sorriso de criança
e a esperança no amanhã!


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VAZIO


E veio a tarde.
A  noite escondeu a luz de teus olhos,
fico pensando em ti...
Te vejo agora no céu que construo,
pleno de estrelas piscantes e fugientes.
Eu sei...
és tu,
estrela cadente,
quem devolves o brilho
que a noite robou
quando, de súbito,
se fez em mim
ausência...




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Rua do Cajueiro-107


Saudade tem endereço,
se no peito ela se mete...
Em mim,
Rua do Cajueiro,
número cento e sete.

Ah, distantes dias,
à deriva na memória...
Vejo agora um anjo moreno,
olhos grandes e doces,
cabelos negros, voz singela;
veste linho branco, puro,
imaculado feito minh’alma infantil.

 Eu...ali, quietinho,
caladinho, bem ao seu lado,
ouvia seu canto de glória,
assim, quase uma oração!
Aos pés da Virgem Maria,
mamãe falava e eu ouvia
em sua prece
a rogativa de bênção!





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A volta

                                          
Quando  voltaste,  amor,
os pássaros cantaram
desfazendo o silêncio que  deixaste
em nós.

E eu...
 que andava triste, cabisbaixo e mudo,
agora já encontro alegria em quase tudo...
Sei amor, tudo mudou,
mas, somente depois
que te vi chegar.

A casa e minh’alma
encheram-se de flores
para te receber.

E os meus olhos tristonhos,
(cujo olhar refletia tua ausência)
encheram-se de luz ...de festa
só para te saudar!





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Ausência


Tão imensa quanto a noite
é minha solidão!
E maior meu desespero,
se em mim te espero...

Vaguem estrelas,
esconda-se a lua,
faça-se a noite,
na sombra de tua ausência
que se agiganta, a cada instante,
dentro de mim...

E me consome, sofregamente,
sem o lenitivo
do teu querer.





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A espera


E essa lua, 
que me acorre em tua ausência,
prolonga mais e mais
o sofrer, 
a espera.
E  se vão segundos, minutos, horas,
manhãs, tardes, noites...
Ah!  Afiados açoites
que marcam meu corpo
e mutilam
o querer.

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O  FIM
                                                                                             Dydha Lyra


Há pouca luz nesse quarto...
( escureço  no  silencio que se faz em  mim,)
Uma espessa  cortina  chamada ontem,
turva a luz que  devaneia  esmo ofegante.
Lembranças  cálidas e furtivas ,
põem na tua ausência...
uma pausa ,
quiça ,
um fim.